domingo, abril 27, 2008

OS ÚLTIMOS HERÓIS DA FEB.

OS ÚLTIMOS HERÓIS DA FEB

Israel Blajberg (*)

Na Rua das Marrecas na Lapa um prédio exibe diariamente o Pavilhão Nacional, encimando o letreiro Casa da FEB. A grande maioria dos passantes ignora do que se trata. Ao se aproximar, notará que por detrás da vitrine existe um Museu.

Já vão longe os idos de 1976, quando o Presidente Geisel chegou ao local para inaugurar o prédio. A rua apertada se tornou pequena para recepcioná-lo, caminhando ao longo das fileiras de ex-combatentes envergando a boina e a braçadeira da Associação Nacional dos Veteranos da FEB - Força Expedicionária Brasileira.

Na multidão eram raros os cabelos brancos nos ex-combatentes, alteando os estandartes e no peito exibindo orgulhosamente suas medalhas.

Graças ao então Governador da Guanabara Carlos Lacerda, a Associação construiu sua sede própria no terreno até hoje de propriedade do Estado. Na época passou despercebida uma armadilha jurídica, que hoje dá dores de cabeça a Diretoria.

Passados 30 anos, a maioria já não está mais aqui. Dos quase 26 mil brasileiros que na Itália se incorporaram às tropas Aliadas para combater o nazismo, estima-se que existam cerca de 3 mil, com idades na faixa dos 80 anos ou mais, como Waldemar Levy Cardoso, único Marechal vivo do Exército Brasileiro. Com 107 anos é o mais antigo ex-combatente, e como tal, detentor do Bastão de Comando da FEB.

De 2007 até agora lamentamos a perda de alguns dos últimos ícones da FEB, como Gen Meira Mattos, Gen Montagna, Gen Ventura, Cel Sergio Gomes Pereira e Cel Osnelli Martinelli, estes dois, os últimos Presidentes.

Uma semana antes das comemorações dos 63 Anos do Dia da Vitória, 8 de maio de 2008, a Casa da FEB vive dias decisivos.
O antigo auditório que já viu tantas Assembléias abrirá suas portas para um punhado de associados, que irão decidir os destinos da Associação na reunião do Conselho Deliberativo.

Movimento inusitado para os dias que correm, mas nada como antigamente, quando a Casa fervilhava diariamente com dezenas de veteranos circulando pelos 5 andares da sede, os moveis reluzentes, divisórias novinhas em folha, os livros da biblioteca e as peças do acervo do Museu ainda sem a pátina do tempo que tudo corrói, afetando não apenas o ativo imobilizado, mas também os homens.

Com o quadro social reduzido a 10 % do que foi, fica cada vez mais difícil manter os 8 funcionários e pagar as despesas de manutenção com os recursos das mensalidades, mesmo tendo sido lançada uma campanha para filiação de sócios especiais, que não precisam ser ex-combatentes.

As promessas de ajuda até agora não se concretizaram, por parte de alguns órgãos do Governo a quem a ANVFEB recorreu para evitar que feche as portas, a não ser o Exercito, que firmará convenio para ceder pessoal para reestruturação administrativa e apoio para o Museu e Biblioteca, mas sem envolver recursos financeiros.

Até o Presidente Lula e o Governador Sergio Cabral foram mobilizados, agarrados literalmente pelo braço pelo Veterano e Herói de Guerra Major Thiago, em recente cerimônia a que compareceram no Itamaraty.

Nas alturas de Monte Castelo e Belvedere, os nossos pracinhas enfrentaram e venceram os remanescentes da 10ª. Divisão Nazista derrotada em Stalingrado, a Divisão Fantasma, inimigo experiente e conhecedor do terreno.

Apenas na quinta tentativa a FEB chegou ao cume da fortaleza. 6 décadas se passaram, mas o pesadelo parece querer retornar.

A reunião deverá ser acalorada. Naquele mesmo auditório se reuniram tantos heróis da FEB, de Soldados a Marechais, como Castello Branco e Cordeiro de Farias. Ali estarão, exibindo o mesmo entusiasmo dos jovens praças e tenentes da Campanha da Itália, agora Coronéis, Generais, ou no mínimo elevados a Tenente conforme a Constituição de 1988 que os amparou,

A importância de manter viva a memória da FEB reside em se constituir sempre como obstáculo contra o renascimento de idéias totalitárias e do preconceito, cultuando momentos de gloria a servirem de exemplo para as futuras gerações de brasileiros.

Aquela história fantástica precisa ser mantida viva, quando a população, estudante à frente sem as caras pintadas, encheu as ruas a exigir do Governo que desse uma resposta à altura contra a bárbara agressão nazista, com o torpedeamento de dezenas de navios mercantes e perda de um milhar de preciosas vidas brasileiras.

A quem adentra a Casa da FEB, parece quase inacreditável que numa remota manhã de 1945 o Rio de Janeiro parou para que a multidão jamais igualada pudesse receber triunfalmente na Avenida Rio Branco seus heróicos pracinhas, quando hoje neste verdadeiro templo, móveis já gastos e peças envelhecidas do Museu resistem entre as paredes silenciosas cobertas de placas, estandartes e retratos, na derradeira homenagem aos que não voltaram.

A missão confiada aos últimos veteranos de não permitir o encerramento das atividades da associação é árdua e difícil, como o foi à luta nas terras geladas da Itália.

Mas a cobra continua fumando... Assim como em Monte Castelo, perseverantes e combativos confiam que a vitória chegará, ainda que apenas na quinta tentativa.

(*) Sócio Especial da ANVFEB - iblaj@telecom.uff.br

VISITE: http://www.anvfeb.com.br

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