terça-feira, abril 29, 2008

COMISSÃO DE MORTOS E DESAPARECIDOS OUVIRÁ LAVRADOR QUE VIU CORPOS NO ARAGUAIA.

29/04/2008 - 10h09
Comissão de Mortos e Desaparecidos ouvirá lavrador que viu corpos no Araguaia
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SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo, no Rio
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A Comissão dos Mortos e Desaparecidos da Presidência convocará para depoimento o lavrador José Rodrigues da Silva, 70, o Baiano, que relata ter visto 12 corpos de guerrilheiros do PC do B na região do Araguaia enterrados em um vala comum na base militar de Xambioá (norte de Tocantins), possivelmente em 1974.
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No último sábado, Diva Santana, representante dos parentes de desaparecidos na comissão, conversou com Baiano no sítio da pastoral católica no município de São Domingos do Araguaia (sudeste do Pará).
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Santana disse que, na conversa, se convenceu da seriedade de Baiano, e que vai propor à presidência da Comissão dos Mortos que o lavrador seja ouvido em Brasília já na próxima reunião, no dia 7 de maio.
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O relato de Baiano foi publicado pela Folha no último dia 20. Ele contou que, ao longo dos 15 dias em que ficou amarrado em uma árvore na mata que havia na base militar, viu os corpos de 12 guerrilheiros serem enterrados em uma sepultura clandestina.
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Amigo do guerrilheiro Osvaldo da Costa, o Osvaldão, desde a primeira metade dos anos 60, Baiano, então conhecido pelo apelido de Fogoió, disse ter participado em Marabá (cidade a 480 km de Belém), antes do golpe de 1964, de reuniões políticas que tiveram a participação do principal dirigente do PC do B, João Amazonas.
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"Eu peguei informações sobre ele, com pessoas da minha confiança em São Geraldo do Araguaia [município paraense em que Baiano reside]. Ele é um cara sério, uma pessoa direita. Já militava no partido antes da guerrilha. Há seriedade no que ele fala", afirmou Diva, irmã da guerrilheira Dinaelza Santana Coqueiro, uma das desaparecidas no Araguaia.
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Baiano entrou com processo na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que esteve em São Domingos do Araguaia nos dias 25 e 26 para ouvir os moradores da região que alegam ter sido presos, torturados e perseguidos pelos militares encarregados da repressão à guerrilha, de 1972 a 1974.
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No depoimento que prestou, o lavrador diz que foi preso três vezes por ser amigo dos guerrilheiros, a quem ajudava com comida e como mensageiro.
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O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Júnior, e os conselheiros tomaram 120 depoimentos. Ainda neste semestre, deverão ser anunciadas as primeiras indenizações.
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A Comissão dos Mortos anunciou a intenção de, neste ano, retomar as buscas dos corpos dos guerrilheiros. Os depoimentos de moradores poderão ajudar na localização das ossadas. Procurado pela Folha, o Exército informou que não comentaria as acusações.
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Para a reunião do dia 7, foram convidados militares que, em livros e entrevistas, revelaram ter atuado no combate à guerrilha rural. Entre eles, o major reformado do Exército Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, e o tenente José Vargas Jiménez, da reserva do Exército. A comissão anunciou a intenção de retomar a busca dos corpos dos guerrilheiros.
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O Exército informou que não comentaria as acusações de que militares cometeram arbitrariedades contra moradores do Araguaia, conforme depoimentos à Comissão de Anistia.
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