quinta-feira, novembro 04, 2010

EXÉRCITO AMERICANO

EUA
PESQUISA VAI ANALISAR COMPORTAMENTO DE ALTO RISCO DE RECRUTAS

Exército está alarmado com a quantidade de suicídios e acidentes rodoviários entre veteranos do Iraque e do Afeganistão

The New York Times
Foto tirada em março de 2008 mostra soldados americanos em Bagdá (David Furst / AFP)


Apenas dois meses depois de voltar do Iraque, o piloto Michael Kearns foi detido em uma via rápida da Flórida por dirigir sua motocicleta Suzuki a mais de 200 quilômetros por hora. Ele sabia que cometera uma imprudência, mas depois de ter vivido com ataques cotidianos de morteiro em sua base no Iraque, disse que precisava de uma descarga de adrenalina. "Quando se chega aqui, não há nada muito emocionante que mantenha seu pulso em movimento", disse Kearns, de 27 anos, em uma entrevista recente.

Sua experiência é tão comum que o Exército americano, alarmado com o índice de suicídios e a quantidade recorde de veteranos do Iraque e do Afeganistão que morrem em acidentes rodoviários ao regressar, está avaliando se, com quase uma década das duas guerras sangrentas, as forças armadas estão atraindo recrutas que tendem a ter um comportamento de alto risco.

Peter Feaver, catedrático da Universidade Duke, que investiga as lacunas entre o Exército e a sociedade civil, disse que "em janeiro de 1990, alguém poderia se alistar no Exército e pensar: sabe, é provável que eu não entre em combate". E afirmou: "Assim é razoável esperar que pudesse haver algumas pessoas no período anterior ao 11 de Setembro que dissessem que a guerra não interessava. Mas em 2005 eram muito poucas, ou nenhuma assim. Ou se fosse alguém assim, era um idiota. A evidência de que o enviariam ao combate em terra olhava direto na sua cara."

O Exército disse que entre as pessoas que querem servir seu país sempre se incluiu algumas viciadas em adrenalina, o que os recrutadores dizem que é algo bom quando se necessitam tropas que saltem de aviões e façam incursões no Afeganistão. No entanto, pesquisadores militares dizem que se viram obrigados a examinar com mais profundidade a demografia psicológica de uma força totalmente voluntária durante o período de combates mais prolongado da história americana.

"Nunca estivemos em guerra por tanto tempo como estamos agora, e não conhecemos os efeitos disso", disse Bruce Shahbaz, um tenente-coronel aposentado do Exército e um dos três principais autores de um recente relatório sobre suicídios na arma. "É possível que estejamos atraindo pessoas que se sentem melhor com os riscos e, caso seja assim, como os medimos?", perguntou. Além disso, disse Shahbaz, o Exército quer saber se há mais probabilidades de que os atrevidos se suicidem ou morram em acidentes, e se o combate aumenta a predisposição ao risco.

Pesquisa - Para tratar de encontrar respostas, o Exército e o Instituto Nacional de Saúde Mental estão começando uma pesquisa de cinco anos com 90.000 soldados em atividade e entre 80.000 e 120.000 recrutas recentes por ano. Eles deverão responder questionários confidenciais que, segundo Shahbaz, poderão incluir perguntas sobre se são donos de motocicletas, usaram drogas ou se gostariam de saltar de bungee-jump. Haverá provas cognitivas para medir a reação ao estresse, assim como uma revisão profunda dos antecedentes familiares e genéticos dos recrutas. "Isso nos permitirá avaliar o estilo cognitivo de alguém e se ele tem um histórico de comportamento de alto risco", disse Thomas Insel, diretor do instituto.

Pesquisadores reconhecem que, ao se concentrar tanto nos recrutas, estão deixando de lado o que muitos dizem ser a maior razão do alto índice de suicídios militares, a tensão das repetidas viagens em tempos de guerra. No entanto, em uma das estatísticas mais surpreendentes, mencionada no relatório de suicídios no Exército, 79% dos soldados que se mataram nos últimos anos haviam viajado uma única vez, ou nenhuma. "Estaríamos equivocados se jogássemos a culpa disso apenas na guerra", disse o general Peter Chiarelli, subchefe do Estado Maior do Exército.

O relatório conclui que grande parte da culpa é dos comandantes que não prestaram atenção aos problemas de saúde mental de suas tropas, mas também responsabiliza o Exército por não rejeitar recrutas com antecedentes de abuso de substâncias e delitos. Entre 2005 e 2007, aproximadamente, quando uma economia forte permitiu que potenciais soldados buscassem emprego em outros lugares e com melhores salários, o Exército baixou seus padrões para recrutamento e retenção a fim de satisfazer a demanda de duas guerras. Como resultado, apontou o relatório, se permitiu que entrassem no Exército milhares de recrutas, com todo tipo de comportamento, incluindo delitos graves, que não seriam convocados em anos anteriores.

Chegou-se à marca de 160 suicídios no serviço ativo do Exército entre 1º de outubro de 2008 e 3o de setembro de 2009, e o relatório afirma que se fossem incluídas as mortes acidentais, "menos jovens morreriam em combate que por suas próprias ações".



Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/estudo-militar-sobre-o-comportamento-de-alto-risco-entre-os-recrutas

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