domingo, abril 20, 2008

'ESQUERDA ESCOCESA' NÃO VÊ ÍNDIO REAL, AFIRMA GENERAL.

Publicado pelo Estadão e reproduzido da Resenha do EB e no Ternuma.
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'Esquerda escocesa' não vê índio real, afirma general
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Comandante critica quem, ‘atrás de um copo de uísque 12 anos, resolve os problemas do Brasil inteiro’
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Wilson Tosta
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Considerado um dos principais adversários da demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, pediu ontem mudanças na política indigenista brasileira, que classificou de “lamentável” e “caótica”. Em palestra no Clube Militar, no centro do Rio, o general, vestindo uniforme de combate camuflado, apontou, para uma platéia de cerca de 600 pessoas - entre elas, militares da ativa -, a questão indígena como uma das “ameaças internas” à soberania brasileira na Amazônia. Também criticou o que chamou de “esquerda escocesa”, que, disse, resolve os problemas brasileiros com uísque, e encerrou com o grito de guerra das unidades da área: “Selva!”
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“Sou totalmente a favor do índio”, afirmou o militar, no primeiro dia do seminário Brasil, Ameaças à sua Soberania. “Até porque não sou da esquerda escocesa, que, atrás de um copo de uísque 12 anos, aqui sentado na Avenida Atlântica, resolve os problemas do Brasil inteiro. Eu não estou na esquerda escocesa. Eu estou lá. Já visitei mais de 15 comunidades indígenas. Estou vendo o problema do índio. Ninguém está me contando como é que é o índio, não estou vendo índio no cinema, não estou vendo índio no Globo Repórter. Estou vendo índio lá, na ponta da linha, e sofrendo com o que está acontecendo.”
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Para ele, o problema indígena não pode ser compreendido fora dos quadros da sociedade brasileira. “Quero me associar, para que a gente possa rever uma política que está demonstrado no terreno que não deu certo até hoje”, afirmou. “É só ir lá olhar as comunidades indígenas para ver que esta política é lamentável, para não dizer que é caótica. O que eu tenho encontrado de comunidade indígena carente de saúde, de perspectiva, voltada para o alcoolismo... Essa política indigenista tem que ser modificada. O Exército quer ser parceiro desta modificação.”
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Ele lembrou que boa parte da população indígena amazônica fica em torno dos pelotões que a Força mantém na região. O militar evitou, no entanto, criticar diretamente a demarcação da Raposa Serra do Sol. “Não tomei posição contra a demarcação, coloquei um problema”, afirmou, em entrevista. “Em nenhum momento contrariei a decisão do presidente da República. A decisão está tomada e será cumprida por quem de direito.”
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Heleno criticou a ausência do Estado que, diz, “permite e incentiva o descaminho e a destruição do patrimônio e favorece a ação das organizações internacionais de todo tipo” na Amazônia. Também atacou a ação de ONGs e as dificuldades impostas à entrada de brasileiros nas reservas, enquanto missionários e entidades estrangeiras se movimentam à vontade.
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Ele pediu o reaparelhamento militar. “A Amazônia é hoje a nossa hipótese mais provável de emprego das Forças, é a hipótese alfa.” Uma das possibilidades externas à soberania brasileira na região, afirmou, seria o convencimento da opinião pública internacional de que o Brasil não é capaz de cuidar da Amazônia.” Na platéia, estavam pelo menos três ex-ministros do Exército: os generais Leônidas Pires, Carlos Tinoco e Zenildo de Lucena.
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Grupo tenta legalizar a mineração na reserva
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Roldão Arruda
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A polêmica em torno da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, não envolve apenas a questão dos grandes produtores de arroz que se recusam a deixar a região. O subsolo da área, com 1,7 milhão de hectares, também é rico em minérios - fato que desperta interesses de empresas nacionais e internacionais e movimenta o Congresso. Existe um grupo suprapartidário trabalhando intensamente para a aprovação de um projeto que libera a mineração em terras indígenas de todo o País.
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Eles querem aprová-lo neste ano, com apoio do governo. Vale lembrar que a versão inicial do texto - que chegou ao Legislativo há 11 anos e passou por várias modificações - foi feita por um parlamentar roraimense, o senador Romero Jucá (PMDB), líder do governo.
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De acordo com o escritório regional do Serviço Geológico do Brasil, cuja sede fica em Manaus, a região da reserva Raposa Serra do Sol é bastante rica em ouro e diamante. Isso causou a invasão da região por sucessivas ondas de garimpeiros, até os anos 90, quando começaram a rarear os veios de minérios mais superficiais, mais fáceis de serem localizados.
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Segundo o geólogo Marcos Oliveira, diretor do escritório regional, ainda podem ser encontrados os chamados terraços aluvionais de ouro e diamante. Mas as jazidas mais ricas exigem maior trabalho mecânico. A região também abriga reservas de nióbio, cassiterita e platina. O pedaço de terra mais rico da região, que abrange Rondônia e parte do norte do Amazonas, está no território dos índios ianomâmis - que começa em Roraima e segue pelo Estado amazonense.
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Entre os índios há divergências sobre o que fazer, se o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmar a criação da reserva. Uma parte deseja a exploração das jazidas, em troca de participação nos lucros, e outra se opõe.
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“Nós não queremos acabar com terras e águas, como fazem os brancos. Se for fazer mineração, tem que ser de maneira sustentável. Não temos culpa se Deus colocou essas riquezas em nossa terra”, diz um dos representantes da população da Raposa, Cristóvão Macuxi.
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