sexta-feira, novembro 12, 2010

OPERAÇÃO PIPA

ABASTECIMENTO COMPROMETIDO
QUIXADÁ: DISTRITOS SEM ÁGUA

12/11/2010
Moradores da zona rural de Quixadá reclamam da interrupção no abastecimento de água para beber


Quixadá. Quando o fim do ano se aproxima, os efeitos da seca se agravam no semiárido. Em Quixadá, um dos maiores Municípios do Centro do Estado, a situação não é diferente. A carência por água principalmente potável, para o consumo humano, aumenta. Sem água nas cisternas, com os barreiros e os pequenos açude secando, a única salvação é mesmo os carros-pipa. Todavia, a assistência emergencial vem sendo interrompida constantemente. Mais uma vez o abastecimento está sendo cortado neste Município.

De acordo com o secretário de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural de Quixadá, Ereni Tavares de Lima, mais conhecido por "Capitão", um membro da equipe do Exército responsável pela Operação Pipa manteve contato telefônico informando sobre a paralisação do programa. Mais uma vez milhares de famílias vão sofrer. Elas dependem exclusivamente da água dos carros-pipa para matar a sede. São 90 comunidades passando por dificuldades. As paralisações são constantes. Costumam ocorrer sempre nos primeiros 10 dias de cada mês. A desculpa é sempre a mesma: falta de repasse de recursos.

Em diversas comunidades da zona rural do Estado, as famílias enfrentam dificuldades para ter acesso à água para beber. As filas para abastecimento começam bem cedo
FOTOS: ANTÔNIO CARLOS ALVES


Sequidão medonha

Se faltam recursos para o Exército atender o programa, os moradores da localidade de Várzea da Onça, a pouco mais de 20km do Centro de Quixadá, são obrigados a desembolsar pelo menos R$ 1,00 para cada litro de água quando o carro-pipa não aparece. "Numa sequidão medonha dessas, fazer uma covardia dessas com a gente é mais do que castigo, é judiação", desabafa o agricultor Francisco Ribeiro Lima, obrigado a bancar do seu aposento para não morrer de sede. O presidente da associação comunitária daquela localidade, Hegemiro de Lima, está revoltado. Além dele, outras 150 famílias dependem exclusivamente do amparo dos carros-pipa. São pobres. Não têm como pagar pela água, nem mesmo utilizando o dinheiro oriundo do Bolsa Família.

A situação se torna mais grave porque o aviso da paralisação chega de surpresa. Não dá nem para se precaver e guardar um pouco mais de água em casa. Ele está revoltado.

Não bastasse a inconstância no abastecimento das comunidades incluídas no programa emergencial, outras 49 aguardam inspeção da Defesa Civil do Exército. O assentamento da Lavoura Seca, a pouco mais de 15km do Centro de Quixadá, e uma deles. As 50 famílias ali acampadas não enfrentam situação pior porque receberam 113 garrafões de água mineral.

Conforme um representante do grupo, Maciel Oliveira, a doação foi feita pela Cruz Vermelha, mas restam apenas 27. Não serão suficientes para atender a todos, dentre eles 37 crianças e três mulheres grávidas. Dentro de uma semana, conforme preveem, a água vai acabar.

Segundo o coronel Felipe Ribeiro, assessor de comunicação da 5ª Secção da 10ª Região Militar, as paralisações no Estado são pontuais. Decorrem de razões alheias à vontade as 10ª RM e de suas Organizações Militares (OMs). A falta de carros-pipa para entrega de água e problemas de potabilidade dos mananciais são algumas delas. "No momento há paralisações apenas nos municípios de Fortim e General Sampaio, em decorrência da falta de carros-pipa", esclareceu o oficial do Exército.

Quanto às 49 comunidades de Quixadá que ainda aguardam inclusão no Operação Pipa, o coronel Felipe Ribeiro informou que, no dia 5 passado, uma comitiva deste Município, chefiada pelo vice-prefeito Airton Buriti, foi recepcionada pelo comando da 10ª RM. Na oportunidade solicitaram a ampliação do programa.

O atendimento dependerá de diversas condicionantes técnicas, dentre as quais, condições de acesso das estradas e de carros-pipa. Outros 39 municípios do Ceará também estão na lista.

Conforme dados do Exército Brasileiro, são pagos em média R$ 3,50 por cada quilômetro de transporte de sete mil litros de água, da fonte ao destino final. Hoje, no Ceará, estão sendo utilizados 531 carros-pipa. Estão atendendo 120 municípios, beneficiando 596.911 habitantes. Nesses números não estão incluídos os 39 municípios onde a Operação Pipa é aguardada.

O Exército não informou o valor do repasse feito pelo Ministério da Integração Nacional para manter o programa federal no Estado.

Militares do Exército entregam senhas a comunidades de Canindé para recebimento de água do carro-pipa


Enquete
Reclamação

"A água é essencial para a sobrevivência de qualquer ser vivo. Antes de cortarem o abastecimento, deviam pensar nisso"

Lúcia de Fátima Alves de Sá
66 anos
Agricultora

"Sem água para beber não há quem agüente. O jeito foi correr para a cidade. Às vezes, lá falta, mas a gente sabe que tem"

Raimundo Nonato Carolino
44 anos
Agricultor

MAIS INFORMAÇÕES

Defesa Civil de Quixadá
(88) 3412.2850
10ª Região Militar - Operação Pipa
(85) 3255.1673

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR

DIFICULDADE

35 MIL FAMÍLIAS DE CANINDÉ NÃO TÊM ÁGUA POTÁVEL

Famílias acordam de madrugada na zona rural de Canindé e vão a pé, de bicicleta, de jumento, em busca de água para beber

Canindé. Os caminhos da sede e da fome avançam, numa geografia marcada pela miséria. Nos Sertões de Canindé, 35 mil famílias vivem sem água potável. Homens e mulheres aguardam em filas quilométricas a chegada do carro-pipa. A falta, já normalmente existente, agora está agravada. O cenário é de sofrimento para moradores e preocupação para a Prefeitura.

"Não temos condições de bancar carros-pipa com verbas da Prefeitura", diz o prefeito Cláudio Pessoa, que já decretou estado de emergência no Município. "70% de nossa população vive no meio rural, mas segundo levantamento feito pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), apenas as sedes dos Distritos de Canindé dispõem de água encanada", ressalta.

O secretário de Agricultura e Recursos Hídricos de Canindé, Airton Maciel, disse que atualmente 17 carros-pipa estão servindo a 135 comunidades, beneficiando 23.010 pessoas. "Esse número ainda é pequeno, porque temos 35 mil famílias precisando de água para matar a sede", explicou.

Quem não está no programa das pipas, precisa andar vários quilômetros para encontrar água. É o caso do pedreiro Francisco Heleno de Sousa, da comunidade de Papel. Ele reclama do tempo perdido. "Deixo de trabalhar para vir aqui para a fila tentar adquirir o máximo possível do precioso líquido", diz.

O vice-presidente do Assentamento Sousa, Aloísio França Libório, não esconde a sua revolta. Na comunidade, 37 famílias utilizam água do carro-pipa. "É inacreditável e inaceitável que o Governo se surpreenda mais uma vez pela seca no Nordeste".

Francisco Noé da Cruz também não esconde a sua revolta com a vida difícil que leva para conseguir água para beber. "O pobre do sertanejo só é valorizado em período de eleição. Quando passa essa época é cada um por si. Ninguém quer saber se tem água no pote e comida na panela desses esquecidos".

João Ferreira da Silva vai mais além. "Casa sem água e luz não cai, computador parado não explode, mas gente e bicho com sede morrem. Essa é a nossa realidade. Ninguém quer resolver o problema da seca, porque é nesse período que os grandes tiram proveito da nossa desgraça", desabafa.

Muita gente acorda ainda na madrugada para tentar encontrar água. A pé, de bicicleta, no jumento, de carroça, veículos motorizados, enfim, de todas as formas. Logo na entrada do Assentamento Sousa, vê-se uma longa fila de baldes, latas ao redor de uma cisterna de placas. Os recipientes marcam o lugar de cada morador que vai ao local pegar água.

"Do jeito que a coisa vai, não vai demorar mais e nós que moramos no sertão iremos enfrentar uma guerra sem fim, não por petróleo, mas por água, principalmente aqui nos Sertões de Canindé", prevê Expedito Ferreira da Silva, que andou de um lado para o outro com seu jumento, as canecas e uma lata, e no fim do dia ainda não havia conseguido água para o consumo da família.

"Quando tem no leito do rio é barrenta, de péssima qualidade. Se não existir essa água, como vamos comer? Como cozinhar? Uma pipa de água custa R$ 100,00", finalizou seu Expedito, que está fora do programa do carro-pipa.

ANTÔNIO CARLOS ALVES
COLABORADOR

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=883569

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