sexta-feira, novembro 26, 2010

GUERRA AO TRÁFICO - RIO DE JANEIRO

25/11/2010 - 22h03 / Atualizada 26/11/2010 - 00h21
RIO DE JANEIRO VIVE GUERRA CONTRA O TRÁFICO; ATAQUES A VEÍCULOS CONTINUAM

Do UOL Notícias
Em São Paulo

Mesmo com a manutenção do efetivo policial nas ruas do Rio de Janeiro na noite desta quinta-feira (25), os criminosos desafiam a ação de reforço da segurança pública e continuam a incendiar veículos, a exemplo do que ocorreu ao longo da semana. O Rio teve um dia de guerra contra o tráfico, com cenas típicas: fuga de bandidos armados pelo morro, veículos blindados da Marinha circulando pelas ruas, tiroteios, mortes, prisões e veículos em chamas. Depois de a Marinha oferecer apoio logístico, o Ministério da Defesa anunciou o envio de 800 homens ao Rio.

Os criminosos não deram trégua. Segundo a Polícia Civil, três veículos foram queimados na noite de quinta (25) entre 20h e 21h: um ônibus na avenida Presidente Vargas (centro), um carro no bairro Cosme Velho (zona sul) e uma van na zona sul (o bairro não foi confirmado). Também há informações de veículos incendiados em São Cristóvão (zona norte), na autoestrada Grajaú-Jacarepaguá (zona norte), em Copacabana (zona sul), além de incêndios em Duque de Caxias (Baixada Fluminense) e Cabo Frio (região dos Lagos).

Antes disso, segundo balanço divulgado pela Secretaria da Segurança Pública do Estado, 31 veículos foram incendiados ao longo do dia, totalizando 74 veículos queimados por criminosos desde domingo, quando a onda de ataques começou a se intensificar. Os veículos queimados nesta quinta estavam, na maioria, perto de favelas, diferentemente dos outros ataques da semana, que ocorreram em vias que estão entre as mais movimentadas da região metropolitana do Rio.

Durante a semana, motoristas foram vítimas de arrastões, foram roubados e tiveram seus veículos incendiados. Virou rotina a interceptação de ônibus por grupos armados que obrigavam os passageiros a descer e ateavam fogo aos veículos. Nesta quinta, um homem teve cerca de 60% do corpo queimados num desses incêndios a ônibus, na Tijuca (zona norte). A vítima, segundo bombeiros, estaria num ônibus da linha 409, atacado por criminosos. Ela não foi identificada e o hospital do Andaraí, para onde ela foi levada, ainda não divulgou informações sobre seu estado de saúde. Também desde domingo,  188 pessoas foram presas ou detidas e, de acordo com a Polícia Militar, 25 pessoas (supostamente criminosos) foram mortas em confrontos.

Um cenário de guerra tomou conta da cidade desde o início da manhã desta quinta, numa operação em que soldados do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) puseram em prática uma operação para a ocupação da Vila Cruzeiro, que integra o complexo de favelas da Penha. Seria o local onde, de acordo com a polícia, estaria o comando da onda de ataques organizados pelos criminosos.

Pela manhã, um longo comboio da polícia com sete veículos blindados e carros de assalto da Marinha se deslocava para a Vila Cruzeiro. Ao lado da igreja da Penha, as tropas do Bope se concentraram e recebiam as últimas instruções antes de iniciar a ocupação da Vila Cruzeiro. Simultaneamente, veículos eram incendiados em pontos diferentes da cidade. Um grupo de 200 policiais civis participou de uma ação no Jacarezinho que terminou com nove homens mortos (traficantes, segundo a polícia).

Os traficantes da Vila Cruzeiro, local que, segundo a polícia, servia de refúgio para vários "refugiados" de regiões antes dominadas pelo tráfico e hoje ocupadas por UPPs (Unidades da Polícia Pacificadora, hoje presentes em 13 comunidades do Rio), reagiram à chegada do "inimigo", como encaram a polícia. Fizeram barricadas com pneus queimando e incendiaram carros para tentar bloquear a passagem do comboio do Bope.


A tropa de elite do Bope ocupou a Vila Cruzeiro, provocando uma fuga em massa de dezenas de criminosos, muitos deles fortemente armados, por uma estrada de terra. Câmeras de TVs captaram a "debandada" em imagens aéreas. Uma caminhonete passou lotada e deu carona a outros traficantes que corriam pelo caminho. Houve tiroteio. Alguns foram atingidos. Os que conseguiram escapar da Vila Cruzeiro foram para o Complexo do Alemão, área vizinha, onde a polícia promete fazer buscas nesta sexta. No arsenal da segurança pública, voltará a operar o helicóptero blindado da polícia, que estava em manutenção.

Enquanto ocorriam a ocupação e a fuga em massa dos criminosos, moradores da favela acenavam com lenços brancos pelas janelas, em sinal de pedido de paz.

A polícia estima que aproximadamente 200 criminosos armados fugiram para o Complexo do Alemão, vizinho à comunidade. A fuga foi feita por uma estrada de terra que corta o Morro do Caricó, que é desabitado e separa as duas comunidades. 

O apoio logístico da Marinha foi cedido pelo governo federal na ação do governo do Rio para tentar acabar com o "poder paralelo" do tráfico, que domina há anos várias áreas do Rio de Janeiro. A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), telefonou nesta quinta para o governador Sérgio Cabral para manifestar seu apoio ao trabalho de enfrentamento ao crime organizado. A comissão de segurança pública da Câmara dos Deputados anunciou que vai mandar ao Rio um grupo de parlamentares na semana que vem para acompanhar o trabalho de combate ao crime no Estado.


A polícia suspeita que presos ligados ao crime organizado também ajudam a comandar as ações dos bandidos. Onze presos foram transferidos nesta quinta do Rio para um presídio de segurança máxima em Rondônia.

Após os confrontos, o subchefe operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, afirmou ao jornalistas que a favela estava tomada. “Posso dizer com 100% de certeza que a Vila Cruzeiro é do Estado”, afirmou. Cerca de 250 policiais participaram da ocupação, que não tem data para ser encerrada, segundo as autoridades.

Em entrevista coletiva no final da tarde, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou que o objetivo central das ações da polícia no Estado é o de retirar território do tráfico. 

“Essas ações estão sendo feitas com o objetivo de garantir a continuidade do que está sendo feito. Foi tirado dessas pessoas o que nunca foi tirado, o território. Seu porto seguro. Eles faziam suas barbaridades e corriam para seu reduto, protegidos por armas de guerra. É importante prender, mas é mais importante tirar o território”, disse Beltrame. “Se não tirar o território, não se avança.”

Entenda os ataques

Uma onda de violência assola o Rio de Janeiro desde o último domingo (21), quando criminosos começaram uma série de ataques e incendiaram veículos, entre carros, coletivos e caminhões.

Na segunda-feira, as autoridades fluminenses consideraram os ataques uma resposta à política de ocupação de favelas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e à transferência de presos para presídios federais. A intenção seria colocar medo na população.

A polícia investiga se os ataques estão sendo orquestrados pelas facções criminosas Comando Vermelho e ADA (Amigos dos Amigos). Na quarta-feira, oito presidiários foram transferidos do Rio para o presídio de segurança máxima em Catanduvas (PR). Nesta quinta, detentos do Rio que estavam em Catanduvas foram transferidos para Porto Velho (RO).

Desde o começo da semana, uma megaoperação está sendo feita em diversas comunidades da capital, sendo a Vila Cruzeiro, no subúrbio do Rio, o local com combates mais intensos.

Uma determinação do comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, obrigou todos os policiais de folga a retornar para seus batalhões. A Marinha foi enviada para ajudar no combate e o governo federal enviou reforço da Polícia Rodoviária Federal.

Grandes quantidades de armas e drogas estão sendo apreendidas diariamente. A operação não tem data para acabar, informam as autoridades.
 

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